O bilionário Elon Musk chegou ao Brasil na manhã de sexta-feira (20/05) e participou de um evento sobre conectividade e proteção da Amazônia no qual foi anunciado o lançamento da rede Starlink para conectar 19 mil escolas brasileiras em áreas rurais e monitorar a preservação da floresta.
“A questão da Amazônia para nós é muito importante. Nós pretendemos e precisamos, e contamos com Elon Musk para que a Amazônia seja conhecida por todos no Brasil e no mundo. [Precisamos] mostrar a exuberância dessa região, como ela é preservada por nós e quanto malefício causam para nós aqueles que difundem mentiras sobre essa região”, disse Bolsonaro.
O fundador da Tesla falou a repórteres ao lado do presidente Jair Bolsonaro e foi condecorado com a medalha de Ordem do Mérito da Defesa, que premia “personalidades civis e militares, brasileiras ou estrangeiras, que prestarem serviços relevantes às Forças Armadas”, segundo a pasta.
“Super animado por estar no Brasil para o lançamento do Starlink para 19 mil escolas desconectadas em áreas rurais e monitoramento ambiental da Amazônia”, escreveu Musk no Twitter.
A Starlink é um projeto da SpaceX, empresa de exploração espacial do bilionário, que usa satélites para oferecer internet. Em 15 de maio, o aplicativo Starlink se tornou o mais baixado na Ucrânia, onde os serviços de telecomunicações têm sofrido interrupções por causa do conflito com a Rússia.
O encontro aconteceu no hotel Fasano Boa Vista, em Porto Feliz, no interior de São Paulo.
“A vinda dele é um marco para todos nós brasileiros, sinal que ele acredita no Brasil e quer uma parceria”, afirmou o presidente em entrevista coletiva. Bolsonaro disse ainda que “interessa, e muito, a nós, a parceria” com Musk.
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Musk já havia se reunido com Fábio Faria, ministro das Comunicações, em novembro, nos EUA. Os dois discutiram o uso da tecnologia da SpaceX para levar internet a escolas de áreas rurais e para ajudar a combater o desmatamento da Amazônia.
O encontro contou com a participação dos empresários e bilionários brasileiros Rubens Ometto, presidente do conselho de administração da Cosan (1521ª posição no ranking mundial de bilionários da Forbes), Rubens Menin, presidente da MRV, do Banco Inter e da CNN Brasil (2351ª posição), Carlos Sanchez, presidente do conglomerado farmacêutico NC (1968ª posição) e André Esteves, CEO do BTG Pactual (416ª posição).
Estiveram presentes ainda o colunista da Forbes e presidente do conselho do Grupo Guararapes, Flavio Rocha, Ricardo Faria, presidente do conselho da Granja Faria, e José Auriemo Neto, presidente do conselho da JHSF.
Também participaram do evento executivos que comandam as principais companhias de telecomunicações do Brasil: Rodrigo Abreu, presidente da Oi, José Félix, presidente da Claro, Pietro Labriola, CEO da Telecom Italia (à qual pertence a Tim), e Alberto Griselli, que substituiu Labriola no comando da Tim no fim de janeiro. O empresário Alberto Leite, que construiu carreira no setor de telecomunicações brasileiro, também compareceu.
A compra do Twitter por Musk também entrou em pauta após Bolsonaro afirmar que a iniciativa trouxe esperança na busca pela liberdade. “O exemplo que nos deu há poucos dias, ao anunciar a compra do Twitter, para nós foi como um sopro de esperança”, disse.
Em uma entrevista ao final do evento, já sem Musk ao lado, Bolsonaro explicou que não conversou com o empresário sobre o assunto, mas elogiou a iniciativa de adquirir a rede social, que é amplamente usada pelo presidente.
Guedes já defendeu isenção para empresas como a de Musk a fim de criar ‘Selva do Silício’ na Amazônia
O ministro da Economia, Paulo Guedes, já defendeu “desoneração por 20 anos” para “big techs” como a Tesla, do bilionário Elon Musk, a fim de que empresas como essas se instalem na Amazônia e criem na região uma “Selva do Silício”, em referência ao polo tecnológico do Vale do Silício, nos Estados Unidos.
Em novembro passado, em um painel da COP26, Paulo Guedes propôs a concessão de “20 anos de desoneração” para empresas de tecnologia como Tesla e Google a fim de que esse tipo de empresa se instalasse na Amazônia.
Na sexta-feira (20/05), o g1 perguntou ao Ministério da Economia se foi oferecida a Elon Musk isenção de Imposto de Renda a fim de que ele leve a empresa da qual é dono para a região amazônica, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
No painel da COP26, Guedes falou em transformar a Amazônia em um centro de tecnologia verde, voltado para áreas, por exemplo, como a bioeconomia — que consiste no uso de novas tecnologias para a criação produtos e serviços sustentáveis.
“Imagina se o Brasil dá 20 anos de isenção para ‘corportate tax’ [como o Imposto de Renda] para empresas como Tesla, Google, Apple. São empresas digitais, são empresas do futuro, são empresas verdes. Para se instalarem na região e transformarem aquilo na capital mundial da bioeconomia”, declarou o ministro, na ocasião.
Em um seminário em maio do ano passado, Guedes disse que é preciso “respeitar” a Zona Franca de Manaus — criada em 1967 pelo governo militar e com benefícios previstos, em lei, até 2073 —, mas também afirmou que é preciso fazer no futuro um “phasing out”, ou seja, uma descontinuidade gradual do atual modelo, embora não de forma abrupta.
“Não podemos chegar em alguém, que já é vítima de um modelo equivocado, e derrubar a Zona Franca de Manaus. Mas temos que ir na vocação natural do lugar, da competitividade, produtividade e vantagem comparativa do local, que é exportação de serviço verde e digital. São indústrias novas, verdes e digitais”, disse Guedes na ocasião.
Atualmente, as empresas instaladas na Zona Franca contam com isenção de Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) para a fabricação e montagem de produtos eletrônicos, como TVs, celulares, veículos, aparelhos de som e de vídeo, aparelhos de ar-condicionado, bicicletas e microcomputadores, entre outros.
A renúncia de arrecadação com a Zona Franca de Manaus e áreas de livre comércio — ou seja, os valores que deixam de ser arrecadados pelo governo — está estimada para o ano de 2021 em R$ 24,2 bilhões pela Secretaria da Receita Federal.
De acordo com o estudo “Zona Franca de Manaus: Impactos, Efetividade e Oportunidades”, da Fundação Getúlio Vargas, a Zona Franca de Manaus promoveu um crescimento da renda per capita, deixando o Amazonas próximo da média nacional, que era de aproximadamente R$ 19 mil, em 2010 — último ano em que os dados foram disponibilizados para comparações estaduais.
O mesmo estudo aponta que a Zona Franca afetou positivamente a proporção de empregados na indústria de transformação. Cresceu a formação de quadros especializados, como engenheiros, técnicos operacionais, administradores e gerentes, em todos os níveis e especialistas em mercado e direito internacional.
Segundo a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), o Polo Industrial de Manaus possui aproximadamente 500 indústrias de alta tecnologia gerando mais de meio milhão de empregos, diretos e indiretos, principalmente nos segmentos eletroeletrônico, bens de informática e duas rodas.
Lista de empresários convidados para encontro com Elon Musk indica interesses dele no Brasil
Dentre os convidados para o almoço no Hotel Fasano Boa Vista, interior de São Paulo, estão sócios majoritários de bancos, donos de empresas de telefonia e segurança digital, construtoras e até representantes do agronegócio.
Além do que pode indicar a lista divulgada de empresários selecionados para o encontro com Musk, o bilionário tem uma variedade de interesses, como o setor de mineração. A divulgação foi feita, primeiramente, pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo.
A Bloomberg revelou em abril deste ano que a Vale e Elon Musk teriam assinado um “acordo secreto” para a compra de níquel. Musk já tinha convocado as mineradoras do mundo a aumentar sua produção do mineral, prometendo um contrato generoso.
O contrato com a Vale seria uma forma de garantir a demanda de níquel para a produção de baterias dos veículos elétricos da Tesla e a expansão prevista de 50% na produção. A Vale planeja extrair cerca de 190 toneladas de níquel em 2022. Segundo a agência estadunidense, a mineradora confirmou o acordo de longo prazo e disse que a Tesla deve abarcar de 30% a 40% das vendas do minério
Em 2020, a Tesla já havia manifestado seu interesse em construir uma sede no Brasil.
Mas os horizontes do bilionário vão muito além.
Farmacêutica
Elon Musk aumentou em 70% sua fortuna em 2021, durante a pandemia de covid-19, e, de passagem pelo Brasil, também encontrou-se com representantes da indústria farmacêutica.
Carlos Sanchez, conhecido como o “bilionário dos genéricos”, é presidente das empresas EMS, Germed Pharma e Legrand, que produzem cerca de 40% dos medicamentos genéricos consumidos no Brasil.
“Quero ser o primeiro laboratório multinacional do Brasil”, disse Sanchez em entrevista em 2019. A EMS exporta remédios para 32 países.
Instituições financeiras
Outro a se encontrar com Musk foi André Esteves, representante do Banking and Trading Group Pactual (BTG Pactual), um banco de investimento brasileiro criado em 2015 a partir da fusão do banco UBS Pactual e da BTG Investimentos.
O conglomerado, com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro, é especializado em capital de investimento e capital de risco e administração de fundos de investimento.
Esteves, considerado o 6º homem mais rico do Brasil, segundo lista da Forbes, possui uma fortuna de R$ 39,5 bilhões e é “partner senior” do grupo financeiro, cujo CEO é Roberto Sallouti, sócio do Mercado Livre, Banco Pan e membro da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Segundo o último informe trimestral, divulgado em março, o BTG Pactual gerencia cerca R$ 1,04 trilhão em ativos, com alta de 36% nos últimos 12 meses. O BTG também registrou lucro líquido de R$ 2,062 bilhões, sendo um dos bancos que mais lucrou em 2022, aumentando em 72% seus rendimentos em comparação com o primeiro trimestre de 2021.
Carlos Fonseca, CEO da Galápagos Capital, também está na lista de Musk. Fonseca saiu da BTG Pactual para fundar sua própria financeira em 2019. Hoje a Galápagos possui cerca de R$ 5,2 bilhões em ativos sob sua gestão, uma cartela de 120 mil clientes e pretende ser o principal banco de empréstimos para empresas startups, através do chamado “venture debt” – crédito rápido com altas taxas de juros.
A proposta se espelha no Silicon Valley Bank (SVB), considerado o banco das startups na costa oeste dos EUA, que em 2021 conseguiu um empréstimo de U$ 30 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para suas operações.
Elon Musk concentra boa parte das suas empresas no Vale do Silício (Califórnia), entre elas, a Space Exploration Technologies (SpaceX), OpenAI, Neuralink, The Boring Company e a Hyperloop Transportation Technologies.
Tecnologia
Musk, que desde a década de 1990 atua no setor de tecnologia, também encontrou-se com empresários do ramo no Brasil.
Entre eles está o maranhense Alberto Leite, CEO da FS Security, empresa especializada em segurança digital. Com faturamento anual de R$ 650 milhões, a FS desenvolve aplicativos para armazenamento de conteúdo em nuvens, venda de microsseguros e antivírus. Antes de abrir sua empresa, Leite trabalhou no setor de telecomunicações nas extintas Telemig e Amazônia Celular.
Alberto Leite, assim como André Esteves, da BTG Pactual, estiveram presentes em um jantar organizado pelo presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em 2021, para falar sobre suas políticas de combate à pandemia.
Construtoras e setor imobiliário
Rubens Menin, presidente do grupo MRV Engenharia, também encontrou o bilionário sul-africano.
Menin é considerado um dos homens mais ricos do país, com um patrimônio estimado em R$ 6,4 bilhões. Também é acionista do banco Inter SA e do canal CNN Brasil, patrocinador do time Atlético Mineiro e conselheiro da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).
Outro nome da lista é José Auriemo Neto, que chegou a ser apelidado de “o rei do luxo” e é presidente do grupo JHSF, uma incorporadora imobiliária, responsável pela construtora de shoppings centers e investimentos de alta renda no Brasil, sendo holding do grupo Fasano.
A empresa, que também atua no Uruguai e nos EUA, é avaliada em R$ 5,2 bilhões.
Telefonia
Além do ministro das Comunicações, Fábio Faria, Musk encontrou-se com representantes da Anatel e também com os presidentes das maiores operadoras de telefonia do Brasil: Rodrigo Abreu, da Oi, José Félix, da Claro e Pietro Labriola e Alberto Griselli da TIM.
Desde 28 de janeiro deste ano, a Starlink, empresa de satélites de Musk, tem permissão para vender seus serviços de internet no Brasil.
A Starlink possui uma rede de 4 mil satélites, que operam a uma distância de apenas 550 quilômetros, e promete oferecer internet banda larga em zonas rurais.
Agronegócio
O bilionário sul-africano também está interessado no agronegócio. Entre os empresários que encontrou estão Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do grupo Cosan, e Ricardo Faria, dono da Granja Faria.
Ometto seria o 5º maior bilionário do Brasil, segundo a lista da Forbes de 2021, com um patrimônio de R$ 46 bilhões. Controla um dos maiores conglomerados do agronegócio, que reúne as empresas Raízen, Rumo, Compass, Moove e Trizy, que juntas tiveram um faturamento de R$ 68,6 bilhões em 2020.
A Cosan é uma empresa familiar, criada em 1936, em Piracicaba (SP), e construiu sua fortuna em cima da exploração do trabalho análogo à escravidão na cana de açúcar, constando na lista suja do Ministério do Trabalho desde 2009.
Além disso, durante a gestão de Geraldo Alckmin, em 2012, o grupo Cosan comprou 72% das ações da Companhia de Gás de São Paulo por R$ 3,4 bilhões.
Já Ricardo Faria é um dos maiores latifundiários do país, e controla a produção de ovos e grãos no Brasil. A Granja Faria S.A, foi criada em 2006 junto à Perdigão (atual BR Foods), e hoje produz cerca de 7 milhões de ovos por dia e controla 660 mil hectares de terra. Em novembro do ano passado, adquiriu a Insolo Agroindustrial num negócio de R$ 1,8 bilhão com a Universidade de Harvard.
Depois de criar a rede de restaurante fast food “Eggys”, Faria seria um dos representantes da aliança entre o setor do agronegócio e da tecnologia, as chamadas agtechs.
Ricardo Faria também fez parte da reunião de empresários que aplaudiram a gestão de Bolsonaro e Guedes durante a pandemia.
Especialistas rebatem ideias de Musk; para ex-diretor do Inpe, propostas são “inúteis”
Festejada pelo bolsonarismo nesta sexta-feira (20) como grande conquista, a visita de Elon Musk ao Brasil tem como uma das principais peças de propaganda a oferta de ferramentas de monitoramento da Amazônia pela Starlink, empresa do conglomerado do bilionário de origem sul-africana. Para especialistas, porém, a tecnologia oferecida por Musk não oferece nada de novo.
O cientista Gilberto Câmara, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, disse no Twitter que as ideias de Musk para “salvar a Amazônia” são “inúteis”. Câmara destacou a qualidade do monitoramento feito pelo Inpe, que revelou, por exemplo, aumento de quase 22% no desmatamento da floresta em 2021.
Em post em inglês, Câmara disse que “a arrogância de Musk é comparável à qualidade do monitoramento florestal” feito pelo Inpe, e completou: “aproveite seu dia com Bolsonaro”.
O coordenador geral da Mapbiomas, Tasso Azevedo, foi na mesma linha. Ele disse que a Starlink pode ser “fantástica” para oferecer conexão à internet em áreas remotas – outra das promessas de Musk –, mas destacou que o Inpe, assim como o Imazon e a própria Mapbiomas oferecem o “estado da arte” – ou seja, a tecnologia mais atual – em relação a dados sobre desmatamento. O que falta, para ele, é que o governo aja efetivamente para interromper as ações ilegais.
Foi a Mapbiomas quem mostrou, por exemplo, que a devastação nas terras indígenas é 20 vezes menor que em outros locais. Já o Imazon (sigla para Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) destacou aumento superior a 50% no desmatamento da floresta em apenas 11 meses entre 2020 e 2011.
O secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, também destacou a omissão do governo e garantiu: “não falta monitoramento” na Amazônia. Astrini foi mais um a reconhecer a importância de garantir a conexão à internet nas escolas e comunidades remotas da região amazônica.
O Observatório do Clima divulgou, no início de fevereiro, um relatório que mostra que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) gastou apenas 41% da verba destinada à fiscalização em 2021. Enquanto isso, Bolsonaro celebrou: sob seu Governo, o número de multas ambientais aplicadas caiu 80%.
Fonte: Robert Muracami, forbes.com.br, vejapontocom, g1.globo.com, brasildefato.com.br