Depois da “imposição da doutrina paranoica do regime militar brasileiro na Amazônia”, ou “como o mito da natureza infinita permite a economia da destruição”, “como a estrada e as obras abrem o caminho para o desmatamento” e “Amazônia: terra, fogo e violência”, dessa vez os jornalistas franceses do portal Mediapart se debruçaram sobre o “reino do agronegócio” brasileiro.
“O onipotente setor do agronegócio está se organizando para se apresentar como imprescindível no Brasil”, afirma a reportagem do site investigativo. Para a equipe de jornalistas franceses, trata-se de “uma batalha de ideias e uma luta política que envolve campanhas publicitárias recorrentes e que tem dramáticas consequências ecológicas e sociais”.
“Ao longo da BR-364, que corta o estado de Rondônia, o agronegócio está espalhando sua força até onde a vista alcança. Milhares de caminhões de transporte de grãos desfilam sem parar diante dos olhos do gado impassível”, relata a Mediapart.
“A paisagem alterna entre pastagens, campos de cultivo e terras devastadas ou em vias de se tornarem. A entrada de cada pequena cidade é adornada com estátuas de vacas ou seus tratadores, acompanhadas de outdoors em apoio a Jair Bolsonaro”, ilustra a reportagem, retratando o clima local em Rondônia.
“Desamazonização”
“Com o novo presidente do Congresso [Arthur Lira], eleito no início de 2021, particularmente sensível aos seus temas, os ruralistas consideram o momento ‘extremamente favorável’ para avançar seus muitos projetos”, diz o texto.
O pesquisador Ricardo Gilson, da Universidade Federal de Rondônia (Unir), entrevistado pela Mediapart, afirma que “há um processo de ‘desamazonização’, a destruição é considerada um elogio ao progresso”, lamenta.
O site francês contextualiza a situação informando que, “além de sua ofensiva política”, os ruralistas aumentaram suas campanhas de comunicação.
“Eles não usam mais o termo ‘negócios’, renomeando-se apenas como ‘agro’, falam em ‘agrocidadãos’ com um discurso nacionalista e recrutando personalidades conhecidas, como o ex-jogador de futebol Pelé. Nessa batalha ideológica, triunfa a cultura do agronegócio, contra a cultura da floresta e de quem vive nela”, afirma a Mediapart.
Guerra de dados
Segundo o site francês, para apoiar a nova doutrina, uma verdadeira batalha sobre o controle de dados estaria em andamento.
“Apesar do reconhecimento internacional, os dados dos satélites que monitoram o desmatamento são regularmente questionados pelo atual governo, e os funcionários do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que os administram sofrem pressão do governo Bolsonaro”, publica o site.
A Mediapart faz questão de destacar que embora a contribuição do agronegócio para o PIB brasileiro seja inegável, o desenvolvimento prometido, na verdade, afeta apenas um pequeno número de beneficiários. “Existem mais de 5 milhões de agricultores no Brasil, mas 25 mil são responsáveis por 50% do PIB agrícola”, diz Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa, ao site investigativo. (RFI).
Fonte: diariodaamazonia.com.br