O Governo do Estado, por meio da Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril de Rondônia (Idaron) intensificou as ações de prevenção e combate a raiva animal na região de Jaru, interior do estado. A medida, que visa prevenir novos casos, foi adotada depois que técnicos da Agência confirmaram um foco de raiva na espécie bovina, naquele município.
O foco de raiva foi confirmado na Linha 608 próximo à BR 364.
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A Idaron está atuando nas propriedades rurais da região onde foi diagnosticado o foco, com diversas ações sanitárias, como coleta de material de animais suspeitos e notificação das propriedades localizadas no raio de 12 quilômetros da área focal, para vacinação em até 30 dias de todos os bovídeos, equídeos, caprinos e ovinos.
Investiga-se também a existência na região de abrigos de morcegos hematófagos, além de ampla divulgação sobre a enfermidade e suas consequências, através de palestras e reuniões em escolas e associações rurais, com distribuição de material gráfico. Há ainda, a divulgação em meios de comunicação. A Secretaria Municipal de Saúde de Jaru foi informada da ocorrência do foco para as devidas providências junto às pessoas que manipularam o animal enfermo.
A doença gera preocupação, uma vez que pode afetar tanto o homem quanto animais mamíferos domésticos e silvestres. No agronegócio ocasiona grande prejuízo econômico, visto que, a evolução da doença é fatal nos animais acometidos. O transmissor do patógeno é o morcego, que se alimenta de sangue, ou seja, é hematófago.
Conforme informação do Coordenador do Programa Estadual de Combate a Raivas dos Herbívoros da Idaron, Fabiano Benitez Vendrame, a Agência mantém um trabalho rotineiro de divulgação sobre a raiva nos municípios e distritos, suas consequências e importância da vacinação anual dos rebanhos, como a única forma de controle da doença no Estado.
Fabiano Benitez, alertou ainda que, vacinar o rebanho, embora não seja obrigatório, é muito mais barato do que amargar o enorme prejuízo, quando da ocorrência da doença nos animais, devido a mortalidade.
O QUE É A RAIVA?
A raiva é uma zoonose (doença que passa dos animais ao homem e vice-versa) transmitida por um vírus mortal tanto para o homem como para o animal. Envolve o sistema nervoso central, levando ao óbito após curta evolução.
Transmissão:
A transmissão da raiva ocorre quando os vírus da raiva existentes na saliva do animal infectado penetram no organismo através da pele ou de mucosas, por meio de mordedura, arranhadura ou lambedura. A raiva apresenta três ciclos de transmissão:
– urbano: representado principalmente por cães e gatos;
– rural: representado por animais de produção, como: bovinos, eqüinos, suínos, caprinos;
– silvestre: representado por raposas, guaxinins, primatas e, principalmente, morcegos.
Sintomas:
Em todos os animais costumam ocorrer os seguintes sintomas:
– dificuldade para engolir;
– salivação abundante;
– mudança de comportamento;
– mudança de hábitos alimentares;
– paralisia das patas traseiras.
Nos cães, o latido torna-se diferente do normal, parecendo um “uivo rouco”, e os morcegos, com a mudança de hábito, podem ser encontrados durante o dia, em hora e locais não habituais.
Raiva humana:
No início, os sintomas são característicos: transformação de caráter, inquietude, perturbação do sono, sonhos tenebrosos; aparecem alterações na sensibilidade, queimação, formigamento e dor no local da mordedura; essas alterações duram de 2 a 4 dias. Posteriormente, instala-se um quadro de alucinações, acompanhado de febre; inicia-se o período de estado da doença, por 2 a 3 dias, com medo de correntes de ar e de água, de intensidade variável. Surgem crises convulsivas periódicas.
O que fazer quando agredido por um animal, mesmo se ele estiver vacinado contra a raiva:
– lavar imediatamente o ferimento com água e sabão;
– procurar com urgência o Serviço de Saúde mais próximo;
– não matar o animal, e sim deixá-lo em observação durante 10 dias, para que se possa identificar qualquer sinal indicativo da raiva;
– o animal deverá receber água e alimentação normalmente, num local seguro, para que não possa fugir ou atacar outras pessoas ou animais;
– se o animal adoecer, morrer, desaparecer ou mudar de comportamento, voltar imediatamente ao Serviço de Saúde;
– nunca interromper o tratamento preventivo sem ordens médicas;
– quando um animal apresentar comportamento diferente, mesmo que ele não tenha agredido ninguém, não o mate e procure o Serviço de Saúde.
Prevenção:
– levar os animais domésticos para serem vacinados contra a raiva, anualmente;
– procurar sempre o Serviço de Saúde, no caso de agressão por animais;
– manter seu animal em observação se ele agredir alguém;
– não deixar o animal solto na rua e usar coleira/guia no cão ao sair.
Colaborar com os Serviços de Saúde nas medidas de controle de raiva:
– notificar a existência de animais errantes nas vizinhanças de seu domicílio;
– informar o comportamento anormal de animais, sejam eles agressores ou não;
– informar a existência de morcegos de qualquer espécie;
– providenciar a entrega de animais para coleta de material para exames de laboratório, nos casos de morte dos animais com suspeita de raiva ou por causa desconhecida.
Evite:
– tocar em animais estranhos, feridos ou doentes;
– perturbar animais quando estiverem comendo, bebendo ou dormindo;
– separar animais que estejam brigando;
– entrar em grutas ou furnas e tocar em qualquer tipo de morcego (vivo ou morto);
– criar animais silvestres ou tirá-los de seu “habitat” natural.
IMPORTANTE: Somente médicos e cirurgiões-dentistas devidamente habilitados podem diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios. As informações disponíveis em Dicas em Saúde possuem apenas caráter educativo.
Por que o vírus da raiva é tão letal?
Esse vírus pode infectar o tecido nervoso e por isso consegue ser tão letal. Quando algum animal raivoso morde uma pessoa, ele deposita saliva infectada com vírus no interior do músculo e tecidos adjacentes, como o tecido conjuntivo. Nesses tecidos haverá a replicação viral, até que haja um número suficiente de novos vírus, chamado de partículas, para dar continuidade à infecção.
Através das junções neuromusculares, o vírus consegue atingir o sistema nervoso periférico e, logo depois, o central, onde promove danos irreparáveis. Por exemplo, no cérebro o vírus afeta o sistema límbico, responsável pelas emoções e pelo comportamento social, acarretando nos clássicos distúrbios comportamentais que os animais e as pessoas infectadas apresentam, dando origem ao nome da doença.
É impossível sobreviver a essa infecção?
É difícil ter sobreviventes, praticamente 100% das pessoas infectadas não conseguem resistir aos sintomas, já que além de afetar o sistema nervoso, o vírus pode alcançar outros órgãos e pode provocar falência cardíaca e respiratória.
Apesar da raiva ser datada desde o início da Era Cristã, só foram registrados cinco casos de sobrevivência no mundo todo: dois nos EUA, um na Colômbia e dois aqui no Brasil.
Em 2004, a americana Jeanna Giese foi a primeira pessoa no mundo que foi considerada curada da raiva e o sucesso em seu tratamento foi devido ao protocolo de Milwaukee. Jeanna chegou ao hospital e os médicos iniciaram um tratamento induzindo a menina ao coma e utilizando antivirais. Para a alegria e espanto de todos o tratamento deu certo e Jeanna foi a primeira pessoa no mundo que foi considerada curada da raiva.
Aqui no Brasil, foi feita uma adaptação do protocolo de Milwaukee para o tratamento do Marciano Menezes, o primeiro brasileiro a ser curado em 2008 e também no caso do amazonense Mateus Silva que foi o segundo brasileiro a sobreviver a doença, depois que ele e seus dois irmãos foram infectados pelo vírus da raiva ao serem atacados por morcegos.
Nos últimos anos, os números de casos de raiva se estabilizaram devido à vacinação em animais domésticos e às medidas de profilaxia, porém esse medo ainda está longe de ter fim, principalmente devido a transmissão silvestre. No início do mês de maio de 2018, já foram notificados alguns casos e mortes por raiva no estado do Pará.
Fonte: Robert Muracami, idaron.ro.gov.br, bvsms.saude.gov.br