O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou, na manhã de sábado (07/05), sua pré-candidatura à Presidência da República nas eleições de outubro. Com 76 anos de idade, ele vai disputar a cadeira do Palácio do Planalto pela sexta vez em sua trajetória política.
A inauguração da pré-campanha está sendo chamado de movimento “Vamos Juntos Pelo Brasil”. O evento deve reunir políticos de diversos partidos apoiadores da chapa, incluindo PCdoB, PSB, Solidariedade, PSOL, PV e Rede, movimentos populares, centrais sindicais e personalidades.
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Realizado em São Paulo, o ato contou com discursos do ex-presidente Lula e do ex-governador Geraldo Alckmin, além da presença de lideranças do PT, PSB, PCdoB, Solidariedade, PSOL, PV e Rede, centrais sindicais, movimentos sociais, artistas e outras lideranças. No evento, Lula enfatizou a importância da recuperação da cidadania e da dignidade do povo brasileiro, roubadas por um governo golpista e socialmente insensível.
“A principal virtude que um bom governante precisa ter é a capacidade de viver em sintonia com as aspirações e os sentimentos das pessoas, especialmente das que mais precisam”, falou Lula, no início de seu discurso (leia aqui a íntegra).
Lula lembrou do árduo caminho que percorreu até chegar a Presidência em 2003 e de seu compromisso em acabar com a fome, uma chaga que havia sido vencida nos governos do PT e hoje voltou a humilhar o povo humilde do país.
“Em 2003, quando tomei posse como presidente da República, eu disse que se, ao final do meu mandato, todos os brasileiros tivessem pelo menos a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, eu teria cumprido a missão da minha vida”, lembrou Lula. “Travamos contra a fome a maior de todas as batalhas, e vencemos. Mas hoje sei que preciso cumprir novamente a mesma missão”.
“Tudo o que fizemos e o povo brasileiro conquistou está sendo destruído pelo atual governo”, lamentou. “O Brasil voltou ao Mapa da Fome da ONU, de onde havíamos saído em 2014, pela primeira vez na história. É terrível, mas não vamos desistir, nem eu nem o nosso povo. Quem tem uma causa jamais pode desistir da luta”, prometeu Lula.
Chapa mais ampla
A chapa de Lula para as eleições presidenciais deve ter a articulação mais ampla da história, em comparação às outras cinco vezes em que o ex-presidente disputou as eleições para o Palácio do Planalto. Com o apoio do Solidariedade, confirmado em evento na manhã de terça-feira (3), o petista chegou ao sétimo partido que declara apoio à sua candidatura.
Até o momento, além de seu próprio partido, Lula já havia recebido o apoio do PCdoB e do PV, que compõem uma federação com o PT, do PSB, partido do ex-governador Geraldo Alckmin, postulante a vice na chapa presidencial, da Rede e do PSOL, siglas que também estão unidas pelos próximos quatro anos por meio de uma federação para disputa eleitoral.
Em 1994, a chapa de Lula para a disputa do Palácio do Planalto também angariou a demonstração de apoio de sete siglas. À época, a Frente Brasil Popular pela Cidadania reuniu PT, PSB, PPS, PV, PCdoB, PCB e PSTU. Apesar do mesmo número de partidos, a articulação construída em 2022 é mais ampla por reunir siglas que não estão à esquerda do espectro político, como o próprio Solidariedade.
Nas candidaturas vitoriosas de 2002 e 2006, Lula também reuniu apoios de partidos de centro-direita e direita. Em 2002, contou com a presença de PL e PMN na articulação. Quatro anos depois, conseguiu incluir o PRB na lista de siglas aliadas. Nas duas ocasiões, contudo, o número de partidos foi menor, em comparação a este ano: cinco em 2002, três em 2006.
Relembre os apoios às chapas de Lula
1989: Frente Brasil Popular (PT, PSB, PCdoB)
1994: Frente Brasil Popular pela Cidadania (PT, PSB, PPS, PV, PCdoB, PCB, PSTU)
1998: União do Povo Muda Brasil (PT, PDT, PSB, PCdoB, PCB)
2002: Lula Presidente (PT, PL, PMN, PCdoB, PCB)
2006: A Força do Povo (PT, PRB, PCdoB)
2022: Vamos Juntos Pelo Brasil (PT, PCdoB, PV, PSB, PSOL, Solidariedade, Rede)
Gleisi ainda quer PSD e MDB
Apesar de ter atingido a marca de sete partidos em torno da pré-candidatura de Lula, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, deputada federal pelo Paraná, disse que ainda trabalha para aumentar as alianças do partido na chapa presidencial. “Queremos crescer mais”, disse, em entrevista concedida na terça-feira (3) ao Fórum Café.
Segundo Gleisi, conversas com o PSD e o MDB estão avançando, para que “a candidatura Lula represente um movimento da sociedade”. A presidenta do PT afirmou que a situação das duas siglas é analisada pelos petistas.
“No caso do PSD, tudo indica que [Gilberto] Kassab e a direção do partido irão liberar os filiados e, com isso, poderemos dialogar e buscar apoio estado a estado”, afirmou. No caso do MDB, explicou, estão ocorrendo conversas sucessiva para que o grupo que tem o senador Renan Calheiros (MDB-AL) como um dos líderes incorpore-se à campanha de Lula.
Resgate da soberania
Lula ressaltou que é preciso restaurar ao Brasil e ao povo brasileiro a soberania, hoje esfacelada pelo bolsonarismo. Para o ex-presidente, a soberania se manifesta em muitas dimensões da vida nacional e do Estado brasileiro. “Defender a soberania não se resume à importantíssima missão de resguardar nossas fronteiras terrestres e marítimas e nosso espaço aéreo”, salientou Lula.
“É também defender nossas riquezas minerais, nossas florestas, nossos rios, nossos mares, nossa biodiversidade”, enumerou. “É defender o direito à alimentação de qualidade, o bom emprego, o salário justo, os direitos trabalhistas, o acesso à saúde e à educação. Defender nossa soberania é também recuperar a política altiva e ativa que elevou o Brasil à condição de protagonista no cenário internacional”, apontou Lula.
Petrobras e desmonte
Lula destacou ainda que não haverá resgate da soberania sem a defesa do patrimônio do povo brasileiro, como a Petrobras e a Eletrobras. “Nós precisamos fazer com que a Petrobras volte a ser uma grande empresa nacional, uma das maiores do mundo”, defendeu. “Colocá-la de novo a serviço do povo brasileiro e não dos grandes acionistas estrangeiros. Fazer outra vez do Pré-Sal o nosso passaporte para o futuro, financiando a saúde, a educação e a ciência”.
“Defender a nossa soberania é defender também a Eletrobrás daqueles que querem o Brasil eternamente submisso”, argumentou Lula. “A Eletrobrás é a maior empresa de geração de energia da América Latina, responsável por quase 40% da energia consumida no Brasil. Foi construída ao longo de décadas, com o suor e a inteligência de gerações de brasileiros. Mas o atual governo faz de tudo para entregá-la a toque de caixa e a preço de banana”, denunciou.
Lula denunciou a estratégia de destruição do Estado nacional por meio do esgotamento do investimento público em todas as áreas, sobretudo em infraestrutura. “O atual governo não cuida da infraestrutura que este país precisa”, disse. “Paralisaram obras importante que estavam em andamento. Tentam se apropriar de outras que receberam praticamente concluídas”, afirmou, citando a Transposição do São Francisco.
Vida digna e combate à fome
Lula destacou ainda a importância dos bancos públicos na geração de empregos dignos ao povo brasileiro, com a oferta de crédito barato, o financiamento de obras de saneamento e construção de moradia e o apoio ao pequeno agricultor, como feito nos governos do PT.
A dignidade do povo passa fundamentalmente pela educação, frisou. “Porque um país que não produz conhecimento, que persegue seus professores e pesquisadores, que corta bolsas de pesquisa e reduz os investimentos em ciência e tecnologia está condenado ao atraso”, alertou Lula. “Nos nossos governos, nós mais que triplicamos os recursos direcionados para o CNPq, a Capes e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Eles saltaram de R$ 4 bilhões e 500 milhões em 2002, para R$ 13 bilhões e 970 milhões em 2015”.
Lula apontou ainda que não haverá soberania “enquanto 116 milhões de brasileiros sofrerem algum tipo de insegurança alimentar”, enquanto 19 milhões de homens, mulheres e crianças forem dormir todas as noites com fome, sem saber se terão um pedaço de pão para comer no dia seguinte”.
“Não haverá soberania enquanto dezenas de milhões de trabalhadores continuarem submetidos ao desemprego, à precarização e ao desalento. Nós fomos capazes de gerar mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada e todos os direitos garantidos”, observou. “Enquanto eles destruíram direitos trabalhistas e geraram mais desemprego”.
Papel do SUS
Lula destacou o papel fundamental do Sistema Único de Saúde (SUS) no atendimento aos brasileiros. Infelizmente, lembrou o ex-presidente, a saúde foi abandonada por Bolsonaro. “Hoje faltam investimentos, profissionais de saúde e medicamentos. Sobram doenças e mortes que poderiam ser evitadas”, opinou.
“Não fossem o SUS e os corajosos trabalhadores e trabalhadoras da saúde, a irresponsabilidade do atual governo nessa pandemia teria custado ainda mais vidas”, relatou.
Lula destacou as políticas dos governos do PT para a saúde: “Criamos o Samu, o Farmácia Popular, as UPAs 24 horas. Fizemos o Mais Médicos, e levamos profissionais da saúde às periferias das grandes cidades e às regiões mais remotas do Brasil. Nós praticamente dobramos o orçamento da saúde, que passou de R$ 64 bilhões e 800 milhões em 2003 para R$ 120 bilhões e 400 milhões em 2015”.
Alckmin na aliança para o futuro
No evento, o petista conclamou os brasileiros a retomarem o caminho de volta para o futuro, um caminho de crescimento, progresso e cidadania. “É para conduzir o Brasil de volta para o futuro, nos trilhos da soberania, do desenvolvimento, da justiça e da inclusão social, da democracia e do respeito ao meio ambiente, que precisamos voltar a governar este país”, definiu.
Ele citou Paulo Freire para festejar a aliança com Geraldo Alckmin em torno de um projeto de reconstrução nacional. “Dizia o nosso querido Paulo Freire: “É preciso unir os divergentes, para melhor enfrentar os antagônicos”. Sim, queremos unir os democratas de todas as origens e matizes, das mais variadas trajetórias políticas, de todas as classes sociais e de todos os credos religiosos”, pediu Lula. “Este é o sentido da união de forças progressistas e democráticas formada pelo PT, PC do B, PV, PSB, PSOL, Rede e Solidariedade”, celebrou.
“Tenho o orgulho de contar com o companheiro Geraldo Alckmin nessa nova jornada. Alckmin foi governador enquanto eu era presidente. Somos de partidos diferentes, fomos adversários, mas também trabalhamos juntos e mantivemos o diálogo institucional e o respeito pela democracia”, elogiou. “Tive em Alckmin um adversário leal. E estou feliz por tê-lo agora na condição de aliado, um companheiro cuja lealdade sei que jamais faltará – nem a mim nem ao Brasil”.
“Nós queremos governar para trazer de volta o modelo de crescimento econômico com inclusão social que fez o Brasil progredir de modo acelerado e tirou 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza”, conclamou Lula. “Nós temos um sonho. Somos movidos a esperança. E não há força maior que a esperança de um povo que sabe que pode voltar a ser feliz”, disse.
“Mais do que um ato político, essa é uma conclamação. Aos homens e mulheres de todas as gerações, todas as classes, todas as religiões, todas as raças, todas as regiões do país. Para reconquistar a democracia e recuperar a soberania”, concluiu.
Alckmin: “A solução virá com Lula
Diagnosticado com Covid-19, o ex-governador Geraldo Alckmin fez um discurso de casa, exibido ao vivo, por telão. Ele reforçou a necessidade de uma ampla aliança para o país derrotar ameaças contra a democracia e restabelecer o desenvolvimento com justiça social.
“Há momentos, em que antes de uma aliança, determinar a sua missão é a própria missão que determina a sua aliança”, discursou Alckmin. “É o que vemos acontecer aqui hoje entre PT, PSB, Solidariedade, Rede, PV, PCdoB, PSOL, valorosíssimas lideranças políticas das mais diversas convicções ideológicas, que aqui comparecem, patriótica e corajosamente, independente da presença institucional de seus próprios partidos, para dar ainda mais força e representatividade à nossa união, no cumprimento da nossa missão”.
Segundo o ex-governador, o futuro do Brasil está em jogo. “Quando a ignorância se une à mentira como estratégia política para demonizar eleições livres e aviltar a democracia, nós não devemos vacilar. O caminho é com Lula. Quando brasileiros são relegados à própria sorte, em meio às mazelas de uma pandemia letal, não devemos aceitar, vamos reponder com Lula. Quando as injustiças sociais, graças à omissão do governo, e a pobreza, a miséria e a fome assumem dimensões vergonhosas e intoleráveis, não podemos hesitar. A solução virá com Lula”.
Com Lula, insistiu Alckmin, o Brasil mudará os termos do debate político em torno dos temas mais relevantes da vida nacional. “Vamos provar que não há incompatibilidade entre a prosperidade individual e uma sociedade solidária. Vamos provar que a eficiência econômica e a justiça social não são coisas opostas”, concluiu.
Artistas e políticos comentam lançamento da pré-candidatura de Lula nas redes sociais
O ato que oficializou a pré-candidatura à presidência da república de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com Geraldo Alckmin (PSB) como vice, em São Paulo, contou com apoio de artistas, intelectuais, lideranças de movimentos populares e políticos de diversas orientações ideológicas. Como as falas ficaram restritas aos pré-candidatos, os apoiadores usaram as redes sociais para expressar a opinião sobre o evento e o lançamento do movimento Vamos juntos pelo Brasil.
Nomes como o do escritor Raduan Nassar, do jornalista Fernando Morais, do sociólogo Jessé de Souza, do historiador Luiz Felipe de Alencastro e de celebridades do reality show, Big Brother Brasil, como João Luiz, Arthur Picoli e Gleici Damasceno marcaram presença no ato em defesa da pré-candidatura de Lula.
Uma nova versão do jingle histórico da campanha eleitoral de 1989, “Lula lá”, foi apresentada com a participação de nomes como Pabllo Vittar, Paulo Miklos, Duda Beat, Zélia Duncan, Lenine, Chico César, Martinho da Vila e outras expressões da música popular.
A cantora e sambista Teresa Cristina, que também aparece no vídeo, interpretou o Hino Nacional ao lado do músico e violonista João Camareiro. E a chef Bela Gil também marcou presença no ato como uma das mestres de cerimônia.
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Nas redes, os artistas elogiaram a fala do ex-presidente sobre a cultura e se mostraram entusiasmados com as ideias apresentadas no ato. A cantora Ludmila postou um vídeo em que dança a música “vai dar PT”, com a marca da campanha de Lula. Parlamentares, dirigentes partidários e líderes dos movimentos populares também registraram a passagem pelo evento.
Em defesa da cultura
No trecho do discurso em que falou sobre a cultura, o ex-presidente condenou o fato do governo de Jair Bolsonaro (PL) transformar os artistas e a cultura em inimigos.
“A arte preenche nossa existência. Não haverá soberania enquanto o atual governo continuar tratando a cultura e os artistas como inimigos a serem abatidos, e não como geradora de riqueza para o país e um dos maiores patrimônios do povo brasileiro”, afirmou Lula.
Veja a repercussão nas redes
Fonte: pt.org.br, brasildefato.com.br