O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) identificou, na quinta-feira (15), um foco de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. A detecção ocorreu no município de Montenegro, na Região Metropolitana de Porto Alegre, e foi informada na manhã desta sexta (16).
Conforme o governo federal, trata-se do primeiro foco de influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) detectado na avicultura comercial do país — antes as ocorrências eram em aves silvestres. Desde 2006, ocorre a circulação do vírus, especialmente na Ásia, África e no Norte da Europa.
A Secretaria de Agricultura do RS informou que o caso foi atendido na segunda-feira (12), em um estabelecimento de reprodução. As amostras foram coletadas e encaminhadas a um laboratório em Campinas (SP), que confirmou o diagnóstico.
Com a confirmação da doença, a área em Montenegro foi isolada e as aves restantes eliminadas. A Secretaria acrescentou que será conduzida uma investigação complementar em um raio inicial de 10 km da região de identificação do foco.
De acordo com a pasta, também foi registrada mortalidade de aves no Zoológico de Sapucaia do Sul. O local está fechado para visitação, e a Secretaria aguarda resultado dos testes realizados.
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Sem transmissão pelo consumo de carne e ovos
O Mapa alerta que a doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves nem de ovos. “A população brasileira e mundial pode se manter tranquila em relação à segurança dos produtos inspecionados, não havendo qualquer restrição ao seu consumo”, diz comunicado da pasta.
O risco de infecções em humanos pelo vírus da gripe aviária é baixo e, em sua maioria, ocorre entre tratadores ou profissionais com contato intenso com aves infectadas (vivas ou mortas).
As autoridades sanitárias sustentam que já começaram a adotar as medidas previstas no plano nacional de contingência. O objetivo é conter a doença, garantir a segurança alimentar e evitar qualquer impacto na produção.
O governo já informou aos órgãos internacionais e parceiros comerciais do país sobre a ocorrência.
O que é IAAP
Conforme ficha técnica do Ministério da Agricultura, a taxa de mortalidade é alta e súbita, sem manifestação de sinais clínicos; ou doença severa, com depressão intensa e sinais respiratórios e neurológicos; cianose e focos de necrose na crista e na barbela (pele que pende do pescoço), além de queda na postura e produção de ovos deformados, com casca fina ou sem pigmentação.
No exame após a morte, pode-se verificar edemas, congestão, hemorragias e necrose em vários órgãos internos e pele.
Nota da Secretaria de Agricultura do RS
O Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal (DDA), da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), atendeu a suspeita de síndrome respiratória e nervosa de aves, no dia 12 de maio, em estabelecimento avícola de reprodução, em Montenegro. As amostras foram coletadas e encaminhadas ao Laboratório Federal de Diagnóstico Agropecuário, em Campinas (SP), que confirmou o diagnóstico de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1) nesta sexta-feira (16/5).
Com a confirmação do foco, o Serviço Veterinário Oficial do RS (SVO-RS) desencadeou as ações previstas no Plano Nacional de Contingência de Influenza Aviária, com isolamento da área em Montenegro e eliminação das aves restantes, para que seja iniciado o protocolo de saneamento da granja. Será conduzida investigação complementar em raio inicial de 10 km da área de ocorrência do foco, e de possíveis vínculos com outras propriedades. A mortalidade de aves no Zoológico de Sapucaia do Sul, que está fechado para visitação, também foi atendida e a Seapi aguarda o resultado do sequenciamento.
O SVO-RS reforça que o consumo de carne de aves e ovos armazenados em casa ou em pontos de venda é seguro, já que a doença não é transmitida por meio do consumo. A população pode se manter segura, não havendo qualquer restrição ao seu consumo.
O que é gripe aviária? Qual o risco à saúde humana?
A gripe aviária, também chamada de influenza aviária e gripe do frango, é uma infecção que atinge aves provocada pelo vírus influenza do tipo A. Algumas cepas virais apresentam capacidade de provocar doença leve (baixa patogenicidade), enquanto outras provocam doenças graves (alta patogenicidade).
Eventualmente a gripe aviária pode acometer seres humanos, sendo responsável por uma mortalidade de cerca de 60%. Tanto aves quanto seres humanos adquirem a gripe aviária pela inalação ou ingestão do vírus influenza, o qual está presente em secreções e fezes de aves infectadas.
Utilizamos o termo influenza ou gripe em referência a uma doença causada pelo vírus influenza e que afeta diferentes animais. No homem, a gripe é responsável por causar sintomas como febre, dor de garganta, dor de cabeça, dor no corpo e tosse. Em alguns casos, a doença pode levar à complicações e, até mesmo, à morte.

Como dito, a gripe não se restringe aos seres humanos, afetando também outros animais, como as aves, situação essa conhecida como gripe aviária. As aves contaminadas pelo vírus influenza podem apresentar sintomas leves ou desenvolver a doença de forma grave. São sintomas da gripe aviária:
- corrimento nasal;
- espirro;
- tosse;
- pneumonia;
- dificuldade para se locomover;
- hemorragias nos músculos;
- edema da crista e barbela;
- redução na produção de ovos.
A gripe aviária pode apresentar grande letalidade nas aves. Em alguns casos, a taxa de mortalidade está próxima a 100%. Vale salientar também que ela pode acometer tanto aves selvagens quanto domésticas. Os principais reservatórios do vírus são aves silvestres aquáticas, as quais podem ser responsáveis por infectar as aves domésticas.
As aves silvestres, durante a migração, podem contaminar as aves domésticas que são criadas soltas. Isso se deve ao fato de que estas podem, por exemplo, compartilhar o mesmo reservatório de água, e aves doentes podem contaminar esse reservatório com excreções. Os vírus podem ser levados por meio de animais, como roedores, equipamentos contaminados e, até mesmo, sapatos de um local para outro, facilitando que a doença se espalhe entre granjas.
Vírus influenza
Existem quatro tipos diferentes de vírus influenza: A, B, C e D.
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Influenza tipo A
Esse tipo de vírus acomete diferentes tipos de animais, como aves, suínos, cavalos e seres humanos. É responsável por epidemias sazonais, apresentando, portanto, grande impacto na saúde pública. O subtipo A(H1N1)pdm09, por exemplo, foi responsável pela primeira pandemia de gripe do século XXI, em 2009. Apenas o vírus influenza A está relacionado com o desenvolvimento de gripe aviária, sendo os surtos de maior patogenicidade provocados pelos subtipos H5 e H7.
Algumas dessas cepas são capazes de provocar infecções em humanos, como a H7N9 e a H5N1, as quais já foram responsáveis por várias mortes. Em 2021, foi relatado o 1º caso humano de gripe aviária provocado pela cepa H10N3. Essa variante, no entanto, apresenta baixa patogenicidade e possui um risco pequeno de se espalhar em grande escala. As cepas que provocam gripe aviária são classificadas como de baixa ou alta patogenicidade, sendo essa classificação baseada na capacidade de provocar doença mais leve ou mais grave.

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Influenza tipo B
O influenza tipo B é também responsável por epidemias sazonais. Diferentemente do tipo A, o tipo B infecta apenas seres humanos.
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Influenza tipo C
O influenza tipo C infecta humanos e suínos. Não está relacionado com epidemias e, portanto, possui pouco impacto na saúde pública
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Influenza tipo D
O vírus influenza D foi detectado em bovinos e suínos nos Estados Unidos. Não é conhecido por provocar doenças em humanos.
Gripe aviária em seres humanos
Raramente a transmissão do vírus influenza aviário para o ser humano é observada. Porém, ela pode ocorrer quando o ser humano tem contato próximo e frequente com a ave doente. Esse risco é maior, portanto, em pessoas que trabalham em abatedouros e granjas. Alguns dos vírus responsáveis pela gripe aviária podem causar sérios danos à saúde humana, sendo responsáveis por causar doença respiratória grave.
Na infecção pelo H5N1, o indivíduo pode apresentar febre, dores no corpo, dor de garganta, dor de cabeça, dor abdominal, tosse, rinorreia (secreção excessiva do nariz e das fossas nasais), vômito e diarreia. A doença pode evoluir para pneumonia, insuficiência respiratória e falência múltipla dos órgãos. A mortalidade por gripe aviária é alta, podendo chegar a 60%.
A primeira epidemia de gripe aviária de que se tem conhecimento ocorreu em 1997, em Hong Kong. Essa epidemia foi responsável por 18 hospitalizações e 6 mortes. Em 2003, mais dois casos da doença foram diagnosticados, novamente em Hong Kong. Uma pessoa veio a óbito nessa ocasião. A partir de 2003, observou-se um aumento das infecções em humanos.
Em junho de 2024 foi confirmada a primeira morte de uma pessoa provocada pela variante H5N2 da gripe aviária. A informação foi divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) após a verificação de exames em laboratórios. A vítima foi um homem de 59 anos que estava hospitalizado na Cidade do México.
Medidas de controle contra a gripe aviária
Para controlar a gripe aviária, é importante que os casos de aves doentes sejam notificados e essas aves sejam rapidamente sacrificadas. É importante também garantir que as aves que tiveram contatos com as aves doentes tenham o mesmo destino. O descarte dos animais mortos deve ser feito adequadamente e a granja deve ser desinfectada. Além disso, deve ser interrompido o transporte de aves vivas em regiões de surtos.
Para fins de investigação, é necessários realizar exames nas aves doentes a fim de identificar o tipo de influenza que provocou a doença. Ademais, é fundamental identificar os casos de gripe aviária em seres humanos e isolar os doentes.
Fonte: Robert Muracami, g1.globo.com, mundoeducacao.uol.com.br