
O trabalho escravo é uma faceta persistente nas áreas rurais brasileiras, ainda que a maioria da mídia corporativa faça vistas grossas desse problema, na medida em que a prática está firmemente fincada no que seriam os bons exemplos do agronegócio brasileiro. A mais recente descoberta aponta que 200 trabalhadores arregimentados no estado da Bahia estavam sendo submetidos à formas modernas de escravidão em estabelecimentos ligados à empresas como as vinícolas Salton, Aurora e Garibaldi. Como essas empresas operam na Serra Gaúcha fica claro que a prática de escravizar trabalhadores estava acontecendo em propriedades modernas e altamente financiadas, o que desmente a noção de que trabalho escravo é algo que ocorre apenas nos grotões mais distantes do Brasil profundo.

Mas a persistência de libertação de trabalhadores escravos em áreas controladas pelo agronegócio que é normalmente apresentado como sendo o mais moderno, como foi o caso da descoberta de trabalho escravo em cafezais mineiros que eram certificados internacionalmente, deixa claro que esse é um problema que está espraiado por todo o Brasil. Aliás, há que se lembrar que a contra reforma trabalhista operada pelo governo de facto de Michel Temer tornou mais difícil imputar a prática de escravizar trabalhadores aos donos das empresas que são flagradas pelas operações realizadas pelo Ministério do Trabalho.
Por outro lado, as diferentes mudanças na legislação trabalhista tornam quase impossível que os responsáveis pela escravização de trabalhadores sejam punidos de forma contundente. Na verdade, na maioria dos casos, os escravizadores nem pagam as multas que são aplicadas, deixando tudo muito confortável para eles.
Por isso, o combate ao trabalho escravo deve ser uma prioriedade do governo Lula, na medida em que é quase certo que neste momento muitos brasileiros estão vivendo em condições degradantes de trabalho ou estão simplesmente sendo escravizados. O fato é que se nada for feito para apertar o laço no pescoço dos que aumentam suas fortunas com os produtos do trabalho escravo, nada mudará.
Com mais de 600 vinícolas ativas em 2017 e mais de 100 municípios envolvidos no cultivo de uva para processamento, o Rio Grande do Sul é o maior produtor de vinhos do país.
Bento Gonçalves (onde fica o Vale dos Vinhedos), Garibaldi, Caxias do Sul e Flores da Cunha são os principais municípios produtores. Foi justamente nessa região que se abateu uma desgraça.
Agentes da Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal (PF) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) descobriram na quarta-feira de cinza que ali há trabalho escravo.
No primeiro dia da operação policial, foram encontrados nessas condições 180 homens, a maioria recrutada na Bahia, mas também indígenas e argentinos. No segundo dia, mais 24.
Segundo o MTE, os trabalhadores eram empregados na colheita da uva nos parreirais, no carregamento de caminhões nas vinícolas e no transporte de frangos de aviários até frigoríficos.
O caso foi denunciado por um grupo que conseguiu fugir e procurou a Polícia Rodoviária Federal em Porto Alegre. O dono da empresa que os aliciou foi preso, pagou fiança e está solto.
Os trabalhadores interrogados disseram que pegavam no pesado diariamente das 5h às 20h, com folgas aos sábados. A comida que lhes serviam quase sempre era estragada, e os alojamentos fediam.
Só podiam comprar produtos em um mercadinho com preços superfaturados, e o valor gasto era descontado no salário. Só podiam ir embora os que saldassem as dívidas.
Isso acontecia em Nova Roma do Sul, Caxias do Sul, Flores da Cunha e Bento Gonçalves. Os donos de vinícolas alegam que o serviço de recrutamento dos homens era terceirizado.
Segundo o gerente regional do MTE, Vanius Corte, o foco das ações fiscais, num primeiro momento, é a formalização dos contratos de trabalho e verificação das condições dos alojamentos.
Mas reconheceu: “Em relação a outras culturas, a uva está muito atrasada nas questões das formalizações dos vínculos empregatícios”.
Fonte: blogdopedlowski.com, metropoles.com/blog-do-noblat