Por Iana Caramori e Luísa Doyle, g1 DF e TV Globo
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou oficialmente, nesta quarta-feira (2), a Campanha da Fraternidade de 2022, com o tema “Fraternidade e Educação” e o lema bíblico “Fala com sabedoria, ensina com amor“.
“Educação é pilar da paz e, por isso, precisa receber sempre mais investimento ssignificativos de governantes, empreendedores, instituições, todos os setores”, diz Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da CNBB.
A campanha busca incentivar a visão da educação integral, considerando os aspectos emocionais, espirituais, cognitivos e físicos dos estudantes.
“É preciso perceber o ser humano além da inserção no mercado de trabalho, para que o processo educacional não forme apenas máquinas”, diz o secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella Amado.
Para Dom Joel, educação não é apenas uma questão a ser discutida dentro das escolas. Ele alerta que cada membro da sociedade tem um papel fundamental no processo.
“Para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira. Quer dizer que educar é tarefa da família, das escolas, das igrejas e de toda sociedade”, diz o secretário geral da CNBB.
Pandemia
A CNBB destacou ainda que a pandemia de Covid-19 causou impactos na educação. “Escancarou ainda mais a desigualdade do nosso país para aqueles impossibilitados de acessar equipamentos tecnológicos para frequentar as aulas“, aponta o padre Júlio César Rezende.
Para o sacerdote, a pandemia deixou em evidência a necessidade de uma colaboração maior entre as famílias e as instituições de ensino.
“A escola sozinha não consegue empreender sua missão e a família, de forma isolada, também não”, diz Dom Joel Portella Amado.
A evasão escolar, a perda de interesse pela educação e o atraso na apremdizagem são preocupações apontadas pela CNBB. O relatório da organização Todos Pela Educação, divulgado em dezembro do ano passado, mostra que cerca de 244 mil crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos estavam fora da escola no segundo trimestre de 2021.
O número representa um aumento de 171% em comparação a 2019, quando 90 mil crianças estavam fora da escola. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), que abrange os efeitos da pandemia (ouça abaixo o podcast ‘O Assunto’ que aborda o retrocesso na alfabetização).
A CNBB acredita na importância de cobrar por políticas públicas que ajudem a reverter o quadro atual da educação no Brasil. Sobre a vacinação de crianças contra Covid-19, Dom Joel diz que não se pode vincular a vacina apenas à necessidade de frequentar a escola.
“Vacinação é um dever e um direito e precisa ser feita. Estamos diante do desafio de salvar vidas”, diz Dom Joel.
Guerra na Ucrânia
O secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella Amado, apontou a necessidade de se posicionar pelo fim do conflito entre Ucrânia e Rússia. A guerra entrou nesta quarta-feira (2) no sétimo dia e é o maior ataque de um país contra outro, desde a Segunda Guerra Mundial, há 80 anos.
“É impossível e desumano tocar em fraternidade e não tocar na dor e no sofrimento dos irmãos da Ucrânia. Toda a Igreja se solidariza”. [O conflito] não pode ser respondido com outra linguagem que não seja a da paz”, diz dom Joel.
Sobre o posicionamento “neutro” adotado pelo governo brasileiro com relação à Ucrânia, o sacerdote afirma que a posição da Igreja se aplica a qualquer pessoa. “Quando nossa opção não é pela paz, nós nos desumanizamos. Não basta cruzar os braços e dizer que não contribuiu [com o conflito]. Se há uma guerra, precisamos trabalhar pela paz”, afirma.
Campanha da fraternidade
A campanha da fraternidade é tradicionalmente realizada pela Igreja Católica em parceria com instituições cristãs desde a década de 1960. O texto-base é escrito por membros do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) e passa pelo aval da direção-geral da CNBB.
A CNBB representa os bispos do país, e funciona como uma espécie de entidade de classe. A adesão à campanha não é obrigatória e depende de cada diocese.
Segundo a CNBB, mais do que abordar os problemas na educação, o objetivo da Campanha da Fraternidade 2022 é “refletir sobre os fundamentos do ato de educar na perspectiva católico-cristã”.
“Nessa perspectiva, a educação é compreendida não apenas com um ato escolar, com transmissão de conteúdo ou preparação técnica para o mundo do trabalho, mas de um processo que envolve uma ‘comunidade’ ampliada que inclui todos os atores (família, Igreja, Estado e sociedade)”, diz a CNBB.
A campanha atende ainda ao Pacto Educativo Global, convocado pelo Papa Francisco, onde foram apresentados os elementos para uma educação humanizada, que contribua na formação de “pessoas abertas, integradas e interligadas”.
“A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis se não se preocupar também em difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza”, diz o Pacto Educativo Global.
Fonte: g1.globo.com