O mundo chegou na terça-feira (15/11) à marca de 8 bilhões de habitantes. Segundo a Organização das Nações Unidas, o ritmo de crescimento da população está mais lento.
O bebê número 8 bilhões nasceu na República Dominicana. Damián foi o escolhido pela ONU para celebrar o momento histórico, um símbolo, porque o bebê 8 bilhões pode ter nascido nesta terça na Itália, na Ucrânia, Alemanha, Bolívia ou na Índia, que foi o país que mais contribuiu para o aumento da população: são 1,4 bilhão de indianos hoje. Ano que vem já serão mais do que os chineses.
E só oito países respondem por mais da metade do crescimento populacional. Além da Índia, República Democrática do Congo, Egito, Etiópia, Nigéria, Paquistão, Filipinas e Tanzânia.
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O secretário-geral, António Guterres, ressalta que atingir o marco é uma prova de avanços científicos e melhorias em questões como nutrição, saúde pública e saneamento. No entanto, o líder da ONU adverte, em artigo de opinião, que à medida que a família humana cresce, também está ficando mais dividida.
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Números recordes
O chefe das Nações Unidas aponta a existência de bilhões de pessoas em dificuldades, centenas de milhões enfrentando fome e números recordes de habitantes do planeta fugindo de casa em busca de ajuda, além de questões como “dívidas, dificuldades, guerras e desastres climáticos”.
Para Guterres, a menos que seja superada a lacuna entre os que têm e os que não têm recursos, o mundo está se preparando para um ser um lugar “cheio de tensões e desconfiança, crise e conflito”.
De acordo com a ONU, a população global levou 12 anos para crescer de sete para oito bilhões, mas chegará a nove bilhões em cerca de 15 anos, em 2037.
O Fundo de População das Nações Unidas, Unfpa, promove a campanha #8BillionStrong no qual os usuários compartilham material de educação sobre oito tendências para um mundo de oito bilhões de pessoas.
As medidas envolvem a desaceleração do crescimento, menos filhos, vidas mais longas, pessoas em movimento, populações envelhecidas, mulheres sobrevivendo aos homens, duas pandemias e centros de mudança.
Distribuição geográfica da população global
A agência da ONU apontou que, à medida que as regiões crescem em ritmos diferentes, a distribuição geográfica da população global está mudando.
A partir deste ano, mais da metade da população mundial viverá na Ásia, com a Índia e a China representando a maior parte dos habitantes no leste e sudeste da Ásia, onde se concentram 2,3 bilhões de pessoas.
Como os países com os mais altos níveis de fecundidade tendem a ter a menor renda per capita, o crescimento da população global se concentrou nos países mais pobres do mundo.
O aumento populacional amplia o impacto ambiental do desenvolvimento econômico, com o aumento da renda per capita impulsionando a produção e o consumo insustentáveis. O ritmo de crescimento mais lento ao longo de décadas pode ajudar a mitigar os danos ambientais na segunda metade do século atual.
Mundo chega a 8 bilhões de habitantes: quem são as crianças nascidas no 5º, 6º e 7º bilhão
A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que a população mundial atingiu oito bilhões de habitantes, apenas 11 anos depois de ultrapassar a marca de sete bilhões.
Após um grande aumento em meados do século 20, o crescimento populacional já está desacelerando.
Pode levar 15 anos para chegar a nove bilhões de habitantes, e a ONU não tem expectativa de alcançar 10 bilhões até 2080.
É difícil calcular o número de pessoas no mundo com precisão, e a ONU admite que suas contas podem ter uma margem de erro de um ou dois anos.
Nos anos anteriores, a ONU selecionou bebês para representar o nascimento da 5ª, 6ª e 7ª bilionésima criança do mundo — será que suas histórias podem nos dizer algo sobre o crescimento da população mundial?
Poucos minutos depois de nascer, em julho de 1987, Matej Gaspar tinha uma câmera disparando flashes em seu pequeno rosto, enquanto um bando de políticos engravatados rodeava sua mãe exausta.
“Basicamente olhamos para as projeções e tivemos essa ideia de que a população mundial passaria dos cinco bilhões em 1987”, diz ele.
“E a data proveniente da estatística era 11 de julho.” Foi assim que eles decidiram chamá-lo de 5º bilionésimo bebê do mundo.
Quando ele procurou os demógrafos da ONU para contar a ideia, eles ficaram indignados.
“Eles explicaram para nós, pessoas ignorantes, que não sabíamos o que estávamos fazendo. E que não deveríamos escolher um indivíduo entre tantos.”
Mesmo assim, eles decidiram ir adiante com o plano.
“Tratava-se de dar um rosto aos números”, explica.
“Descobrimos onde o secretário-geral estaria naquele dia e partimos dali.”
Trinta e cinco anos depois, o 5º bilionésimo bebê do mundo está tentando esquecer sua chegada espetacular ao mundo. Sua página no Facebook sugere que ele está morando em Zagreb, casado e trabalhando como engenheiro químico. Mas evita dar entrevistas e se recusou a falar com a BBC.
“Não o culpo”, diz Alex, lembrando do circo midiático no primeiro dia de vida de Matej.
Desde então, mais três bilhões de pessoas foram adicionadas à nossa comunidade global. Mas nos próximos 35 anos, pode haver um crescimento de apenas dois bilhões — e então a população global provavelmente se estabilizará.
7º bilionésimo bebê
Nos arredores de Dhaka, em Bangladesh, Sadia Sultana Oishee está ajudando a mãe, descascando batatas para o jantar. Ela tem 11 anos e preferia estar na rua jogando futebol, mas seus pais são bastante rígidos.
A família teve que se mudar para cá quando seu negócio de venda de tecidos e sáris foi prejudicado pela pandemia de covid-19. A vida é mais barata no vilarejo, então eles ainda conseguem pagar a mensalidade escolar das três filhas.
Oishee é a caçula e o amuleto da sorte da família. Nascida em 2011, ela foi nomeada um dos 7º bilionésimos bebês do mundo.
Sua mãe não tinha ideia do que estava prestes a acontecer. Ela nem sequer esperava dar à luz naquele dia. Após a visita de um médico, ela foi levada para uma cesariana de emergência.
Oishee chegou ao mundo um minuto depois da meia-noite, cercada por equipes de TV e autoridades locais que se amontoavam para vê-la. A família ficou surpresa, mas encantada.
Embora seu pai esperasse um menino, ele agora está feliz com as três filhas inteligentes e trabalhadoras. A mais velha já está na universidade, e Oishee está determinada a ser médica.
“Não estamos tão bem de vida, a covid tornou as coisas mais difíceis”, diz ele. “Mas farei de tudo para que o sonho dela se torne realidade.”
Desde que Oishee nasceu, mais 17 milhões de pessoas foram adicionadas à crescente população de Bangladesh.
Esse crescimento se deve a uma grande história de sucesso médico, mas a taxa de expansão de Bangladesh diminuiu bastante. Em 1980, uma mulher tinha, em média, mais de seis filhos, agora tem menos de dois. E isso graças ao foco que o país colocou na educação. À medida que as mulheres se tornam mais instruídas, elas optam por ter famílias menores.
Isso é crucial para entender para onde a população mundial provavelmente caminha. Os três principais órgãos que fazem projeções sobre a população global — a ONU, o Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME, na sigla em inglês), da Universidade de Washington, e o IIASA-Wittgenstein Center, em Viena — variam em relação aos ganhos que esperam na educação.
A ONU diz que a população global atingirá seu pico na década de 2080 com 10,4 bilhões de habitantes, mas o IHME e Wittgenstein acreditam que isso acontecerá mais cedo — entre 2060 e 2070, com menos de 10 bilhões.
Mas são apenas projeções. Desde que Oishee nasceu, em 2011, muita coisa mudou no mundo, e os demógrafos são constantemente surpreendidos.
“Não esperávamos que a mortalidade por Aids caísse tanto, que o tratamento salvaria tanta gente”, diz Samir KC, demógrafo do IIASA.
Ele teve que alterar seu modelo porque uma melhora na mortalidade infantil tem um impacto de longo prazo, já que as crianças sobreviventes passam a ter filhos.
E depois há ainda as quedas impressionantes na fertilidade.
Os demógrafos ficaram chocados quando o número de filhos nascidos por mulher na Coreia do Sul caiu para uma média de 0,81, conta Samir KC.
“E quão baixo pode chegar? Esta é a grande questão para nós.”
É uma realidade com a qual cada vez mais países terão de lidar.
Enquanto metade do próximo bilhão de habitantes virá de apenas oito países — a maioria deles na África —, na maioria dos países a taxa de fertilidade será inferior a 2,1 filhos por mulher, o número necessário para sustentar uma população.
6º bilionésimo
Na Bósnia-Herzegovina, uma das populações em declínio mais rápido do mundo, Adnan Mevic, de 23 anos, pensa muito sobre isso.
“Não vai sobrar ninguém para pagar as pensões dos aposentados”, diz ele.
“Todos os jovens terão ido embora.”
Ele tem mestrado em economia e está procurando emprego. Se não conseguir encontrar um, se mudará para a União Europeia.
Como muitas partes do leste europeu, seu país foi atingido pelo duplo golpe da baixa fertilidade e alta emigração.
Adnan mora nos arredores de Sarajevo com a mãe, Fatima, que tem lembranças surreais do nascimento do filho.
“Percebi que havia algo incomum porque médicos e enfermeiras estavam se reunindo, mas eu não sabia o que estava acontecendo”, recorda.
Quando Adnan chegou ao mundo, o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, estava lá para nomeá-lo como o 6º bilionésimo bebê do planeta.
“Eu estava tão cansada que não sei como me sentia”, lembra Fatima, rindo.
Adnan e a mãe folheiam álbuns de fotografias. Em uma das fotos, um garotinho está sentado em frente a um bolo gigante, rodeado por homens de terno.
“Enquanto outras crianças tinham festas de aniversário, eu recebia a visita de políticos”, diz Adnan.
Mas também havia vantagens. Ser o 6º bilionésimo bebê do mundo levou a um convite para conhecer seu herói, Cristiano Ronaldo, no Real Madrid, quando ele tinha 11 anos.
Adnan acha impressionante que em 23 anos a população mundial tenha aumentado em dois bilhões de habitantes.
“É muito realmente”, diz ele.
“Não sei como nosso lindo planeta vai aguentar.”
Fonte: news.un.org, g1.globo.com, sbt news, bbc.com